10 nov 2018

Centenária, aspirina também poderá ser usada contra câncer

Os últimos trabalhados, porém, têm se debruçado mais sobre aspirina e câncer. O medicamento, à base de ácido acetilsalicílico, já foi ligado em pesquisas à prevenção de tumores de mama, próstata, pulmão, ovário, endométrio, bexiga, pâncreas, fígado e, principalmente, de esôfago e colorretal.

A proteção pode estar relacionada à ação anti-inflamatória da aspirina.  “Chama a atenção o fato de vários estudos mostrarem um benefício para tumores diferentes, principalmente aqueles ligados a uma inflamação crônica”, afirma Felipe Fernández Coimbra, cirurgião oncologista e diretor de cirurgia abdominal do A.C.Camargo Cancer Center.

Esse efeito explica ainda por que a aspirina é testada para diversas doenças, inclusive as neurodegenerativas e as mentais, como depressão, que já foram ligadas a um processo inflamatório.  Deve ser lançada neste ano, nos EUA, uma diretriz que informará se a aspirina deve ser usada para profilaxia de câncer colorretal.  O fabricante da aspirina, está conduzindo um estudo com cerca de 10 mil pacientes para investigar se a aspirina pode, de fato, ser indicada para a prevenção desse tipo de câncer.

“Discute-se se a aspirina poderia ser indicada para famílias com alto risco de câncer ou pessoas com muitos pólipos no intestino, por exemplo. Seria interessante ter um remédio que prevenisse tumores que geralmente são diagnosticados em fase avançada, mas ainda não é algo que usamos na prática clínica”, Um dos poréns para indicar o uso da aspirina de maneira generalizada para a população é seu risco de sangramentos gastrointestinais.

Alguns estudiosos lembram  que pacientes com câncer têm, muitas vezes, risco maior de sofrer esse efeito adverso.  O remédio continua instigando pesquisadores a relacionar os benefícios centenários às diversas enfermidades. Na prática, porém, a pílula permanece com as mesmas boas e velhas indicações.  CORAÇÃO  O risco de sangramentos levou a uma redução do uso preventivo de aspirina em pessoas sem histórico de doenças cardíacas, segundo Raul Dias dos Santos, diretor científico da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo).  “Porém, já se sabe que para quem teve um evento cardiovascular, como infarto ou AVC, o tratamento com aspirina é obrigatório.  Como o risco de um novo problema é grande, os benefícios superam os riscos e o é possível reduzir a mortalidade. .  O uso em eventos cardiovasculares agudos também está consagrado.

O problema é indicar o remédio para quem tem fatores de risco, mas nunca teve nenhuma complicação, a chamada prevenção primária.  Nesses casos, a aspirina pode diminuir o risco relativo de um evento cardiovascular em 25%, mas, hoje é possível ter um benefício similar controlando a hipertensão e o colesterol com drogas mais inócuas.

“Na prática, as  pessoas com formação de placas de gordura nas artérias poderiam se beneficiar da prevenção diária com aspirina, mas pacientes mais velhos, fumantes e/ou com diabetes são os que têm maior indicação”. No entanto, esses pacientes são também as pessoas a ter mais sangramentos como efeito colateral, provavelmente porque têm aparelho digestivo mais sensível. “É uma conta difícil de fazer.”

Em ambos os casos, os benefícios na redução dos eventos cardiovasculares devem superar os riscos de hemorragias gastrointestinais.  O uso da aspirina é contraindicado em algumas situações como hipersensibilidade conhecida ao medicamento, úlcera ativa e doenças graves do fígado.

Fonte: folha.uol.com.br